sexta-feira, 7 de março de 2008

Outros Fóruns...




Entrevista Gadotti

Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire, participou do Encuentro Internacional de Educación, que aconteceu durante o Fórum Social Temático da Colômbia. Gadotti representou o Fórum Mundial da Educação, juntamente com Pablo Gentili, do Conselho Latino-Americano de Ciências Socais (CLACSO). O Instituto Paulo Freire e a CLACSO são as entidades responsáveis pela estruturação do Conselho Internacional do FME. Leia a entrevista de Moacir Gadotti sobre o encontro na Colômbia.

FME – Como foi a participação do Fórum Mundial de Educação no Encuentro Internacional de Educación, na Colômbia?

Gadotti- Em primeiro lugar, nós temos que destacar que o Fórum Mundial de Educação, dentro do Fórum Social Mundial Temático da Colômbia, teve a primeira participação dentro desta nova estrutura. Aliás, ele já estava se organizando, funcionando nesta nova estrutura de transformação do Fórum Mundial de Educação de evento de Porto Alegre em um grande movimento mundial. Esta foi a primeira experiência e deu pontapé inicial desta nova estrutura.
A participação do FME organizou-se em torno de uma temática muito próxima do Fórum colombiano: muita preocupação com a questão da diversidade, a preocupação com a democracia, porque eles vivem um processo de intervenção americana com o Plano Colômbia. Eles perderam muito espaço democrático, cada municipalidade hoje tem um exército próprio, autônomo, para combater o narcotráfico e as guerrilhas. A situação peculiar da Colômbia foi muita debatida, com muita dificuldade, evidentemente, de diálogo entre as duas posições antagônicas.
Internamente, o Fórum Mundial de Educação discutiu particularmente a questão do financiamento da educação, concentrando-se na questão do direito, de uma certa forma, ligado ao direito à educação. Portanto, posicionando-se claramente contra a visão da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de outras instituições a níveis internacionais. Mais especialmente da postura da OMC, que defende que a educação seja jogada no mercado como uma mercadoria qualquer, e isso retira das nações a possibilidade de definir a sua educação, por que se a educação entrar no comércio como um serviço, como uma mercadoria, as corporações acabarão dominando até a concessão da educação. Este foi um tema muito discutido, deixando claro que o Fórum Mundial de Educação tem dois eixos, dois pilares fundamentais: o primeiro é o combate ao neoliberalismo no campo da educação, que se expressa particularmente por essa mercantilização da educação apregoada pela OMC.
O segundo pilar é a questão da diversidade. Não devemos abrir mão da diversidade, da pluralidade, diria, até mais do que da diversidade do movimento. Claro, sempre subordinados à plataforma comum de combate ao neoliberalismo. A diversidade do movimento enriquece muito porque não sectariza, deixa a porta aberta para um diálogo profundo entre os grandes movimentos nas suas diferenças.
Acho que este foi um encontro fundamental do ponto de vista de aprofundamento da missão.Mais até do que da missão, do caráter e da importância do Fórum. Uma outra coisa que me deixou bem impressionado foi a grande receptividade do Fórum Mundial de Educação e a grande expectativa dos outros países.
Eu e o Pablo Gentili estávamos representando o Conselho Internacional do FME dentro desta nova estrutura e fomos muito assediados por todos os participantes. Primeiro, solicitando informações sobre a nova estrutura. É claro que a gente não quer fazer uma estrutura primeiro puramente formal para depois adequar à realidade. Queremos que a realidade vá dando subsídios para formar uma estrutura que seja a mais democrática possível. Acho que caminhamos para uma democratização ainda maior para o Fórum Mundial de Educação. Porém, o que ficou muito claro é esta imensa expectativa em relação à potencialidade do Fórum. Devemos agregar muitas frentes, sejam sindicais, populares, como também os governos, portanto não ignorando a questão do Estado. E é isso que nos diferencia um pouquinho do Fórum Social Mundial: a participação dos estados, de governos, mais que estados, é uma questão, ainda, em discussão dentro do Fórum Social Mundial.
Um ponto muito positivo foi esta sensação que a gente traz quando vai para fora do país e também da nossa responsabilidade que é exatamente a imensa expectativa em relação às possibilidades do Uma coisa que ficou marcante lá nesse encontro, parece até uma particularidade, mas é a seguinte questão: alguns nos acusam de que no fundo somos contra a democracia. Nos dizem: - Que bom! Vocês querem uma alternativa à democracia -. Não é esta a nossa visão, a visão que transpareceu não é uma alternativa à democracia, nós queremos é ter a capacidade prática de reinventar a democracia. Ter a possibilidade de fazer novas experiências da democracia, por que a democracia liberal é apenas uma democracia. E ela hoje não nos serve, visto que é extremamente excludente e não permite a liberdade.
No encontro, falou-se em um termo que eu gostei muito, como se fala em biodiversidade, falaram em “demodiversidade”, ou seja, deixar aparecer e incentivar novas experiências democráticas para poder criar alternativas democráticas. Não é por uma alternativa à democracia que a gente está lutando, mas pelas diferentes possibilidades de construir democracias alternativas, dentro do campo da democracia. No fundo, radicalizando a democracia. Isto é uma conclusão muito interessante.

FME - Que outros temas debatidos na Colômbia chamaram a sua atenção?

Gadotti - É claro que tiveram muitas discussões importantes que apareceram em diferentes momentos. Por exemplo, uma outra seria a questão da democratização do espaço público ou o espaço público democrático, que trabalha com a idéia da cidade educadora. Falou-se em uma pedagogia da cidade. Também importante realçar isto: a pedagogia da cidade e a cidade educadora como espaço público tomado pela cidadania.
Um terceiro ponto que eu queria traçar é a questão da estrutura. Já conseguimos organizar. Teve uma primeira reunião do Comitê Organizador do Fórum Mundial de Educação da Colômbia. Teve uma primeira reunião, também, de integrantes do México. Porém, como havia mais acadêmicos e menos pessoas ligadas aos movimentos, eu e o Pablo encaminhamos para que houvesse uma nova discussão na cidade do México, incorporando mais movimentos sociais e populares.
A minha impressão é que estamos caminhando bem. Esta nova estrutura foi muito bem aceita pelo fato de ser mais democrática, dá espaço para os países participarem muito mais. Os Comitês Organizadores de cada país darão esta capilaridade que a gente quer ao movimento. Esta inserção nos diferentes países, portanto, força, por que para um movimento não basta ter bandeiras de luta, ele precisa ter força para que estas bandeiras de luta sejam repicadas na prática. E a eficácia destas bandeiras de luta traduz-se com uma maior organização democrática e conseguindo, assim, maior mobilização nos países.

FME - Quais as entidades que organizaram o Encontro na Colômbia?

Gadotti - Quem organizou concretamente o evento, do ponto de vista administrativo, foi uma grande organização que tem ramificação em toda a Colômbia chamada Viva la Ciudadania. Ela é uma rede das organizações populares, de pessoas muito fortes, com grande visibilidade no país.
Esta entidade trabalha muito com a noção de Cidade Educadora e Escola Cidadã. Estes dois eixos foram muitos discutidos: a Cidade Educadora numa concepção também de Escola Cidadã. Outro tema muito debatido por um grupo da Argentina foi a Pedagogia da Cidade para que o cidadão tome conta da cidade. E o conceito de cidade não diferente do campo, não distinguindo o campo da cidade. A cidade enquanto noção ampla que inclui o campo também dentro dela. Esta foi uma discussão muito aprofundada sobre as diferentes escolas. O importante é que isso implica em uma nova visão da educação, uma educação não-formal, ou seja, a incorporação do informal no formal e vice-versa. Portanto, não fazendo mais a separação do escolar e não-escolar. Não fechando a escola dentro de um campus de concentração. Ao contrário, a proposta é abrir o campus, a escola ir pra a cidade e trazer a cidade para dentro da escola, uma interação muito forte que se dá por muitos mecanismos.
Acho que Porto Alegre tem uma experiência longa com a Escola Cidadã e Cidade Educadora. Só que a cidade educadora hoje tem várias experiências novas, por isto que se falou muito nesta transição: Escola Cidadã formando para a Cidade Educadora.

Extraído do site: http://www.portoalegre.rs.gov.br/fme/interna.asp?m1=13855

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